A Divina Proporção

A matemática era a ciência pela qual Da Vinci buscava a constatação das coisas, e para ele, não existia certeza na natureza à qual não se pudesse aplicá-la. Já dizia o mestre: “Que nenhum homem que não seja matemático leia os elementos de minha obra“. Assim como Pitágoras, Da Vinci percebia a matemática como a fundação geométrica que dava origem à forma e ao movimento da vida: “…se começarmos com a superfície de um corpo, descobriremos que ela deriva de linhas, as fronteiras da superfície…sabemos que a linha, por sua vez é delimitada por pontos, e que o ponto é a última unidade, menor do que a qual nada existe“. Essa afirmação recorre à filosofia monista que defendia a origem comum de todas as coisas a partir de um elemento, neste caso, o ponto. Esse mesmo conceito já foi constatado pela nossa própria ciência, ao chegar ao átomo, como elemento constituinte de toda a matéria.

Para Leonardo Da Vinci, era essencial que o pintor tivesse conhecimentos de matemática para os estudos de perspectiva dos ambientes e proporções do corpo humano. Nos ateliês renascentistas para além da arte, se estudavam matemática, física, anatomia e toda a espécie de ciências que aproximassem o objeto criado do seu criador e inspirador, a natureza. Aqui, aplica-se o princípio de Conessione, onde toda a parte (as ciências) tem a predisposição de unir-se ao todo (as ideias) para escapar a sua própria imperfeição (a forma). Pois como diz a máxima de Pitágoras, o limitado dá forma ao ilimitado. Todos as partes se conjugam para dar forma ao todo.

Em relação à afirmação de Anaxágoras, contemporâneo de Pitágoras, de que a realidade pode ser reduzida a um número infinito de sementes, temos face à engenharia genética, que diz que uma cadeia de DNA possui todo o genoma humano. Conceitos como esse nos levam a um princípio comum, uma essência que está presente em tudo, da mesma forma como uma gota de água contém todo o oceano.

A representação do poliedro¹ na imagem deste post é uma das mais de 60 ilustrações de Leonardo Da Vinci encomendada por Luca Pacioli², monge franciscano e célebre matemático italiano, para ilustrar o livro De Divina Proportione, um tratado sobre a razão áurea aplicada a geometria, escritas entre 1496 e 1498. Em um dos trechos de seu tratado de matemática, diz Da Vinci: “A geometria é infinita porque toda a quantidade contínua é divisível ao infinito em uma direção ou outra“, logo, a matemática dentro de sua concepção não possui limites no campo da imaginação.

A restauração da De Divine Proportione pelo Aboca Museum da Itália pode ser conferido no vídeo a seguir, que destaca como a obra original foi reproduzida num meticuloso e apurado processo de forma a manter suas características originais:

De Divina Proportione também foi traduzida para o português de forma comentada por Fabio Maia Bertato em 2010 e pode ser conferida no Google Books.

“Não existe uma certeza à qual não se possa aplicar qualquer uma das ciências matemáticas, tampouco as que sejam ligadas às tais ciências.”

Leonardo Da Vinci
Anotações de manuscritos -

1 Poliedro
De Divina Proportione, 1496-98
Biblioteca Ambrosiana – Milão
Leonardo Da Vinci

2 Luca Pacioli
Tempera on panel, 1495-1500
Capodimonte Museum, Naples
Jacopo de’ Barbari

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Discípulo da experiência, pesquisador de diversas ciências e religiões, e grande admirador de Leonardo Da Vinci.

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