A Arte de Pintar

Para Leonardo Da Vinci, o exercício da pintura representava muito mais do que a reprodução artística de uma forma.

Pintar era um ato de comunhão com o divino, onde o artista buscava por inspiração, através da imaginação, alcançar o plano das idéias e por meio da técnica, dar-lhes uma forma estética. Como o próprio mestre dizia, tudo aquilo que ele pintava era apenas um esboço daquilo que ele conseguia perceber em sua contemplação.

A palavra inspiração, vem do latim inspirare, que significa, introduzir ar. Sabemos pela tradição oriental que o ar é prana, energia que quando bem canalizada vitaliza o corpo e elucida a mente. Já imaginação, vem de imaginatione – imagem e visão. Platão em sua teoria das ideias conceituava a imaginação como a capacidade de encarnar arquétipos no plano sensível. Para Plotino, as imagens eram o meio pelo qual as ideias poderiam se expressar de forma mais pura e reluzente, uma vez que a mente do ser humano processa imagens e não palavras. A técnica neste processo seria o próprio Sfumato, condição alcançada pela vivência sagrada (corporalità) de cada momento. Por fim, a palavra estética, que vem do grego aisthésis, significa perceber e sentir (sensazione), capacidade do artista em representar as idéias em belas formas.

Segundo Leonardo Da Vinci: “Pintar é uma atividade que cobre todas as dez funções do olho, ou seja, escuridão, luz, corpo, cor, forma, localização, distância, proximidade, movimento e repouso.” Para além das funções do olho, seria necessário ao artista também conhecimentos de anatomia: “…o pintor que tem conhecimento da natureza dos tendões, músculos e ligamentos saberá muito bem, no movimento de um membro, quantos e quais tendões são a causa de um movimento, e qual músculo, por inchaço, é a causa da contração desse tendão, e quais tendões expandidos na mais delicada cartilagem cercam e seguram o referido músculo…e não fará como muitos que mostram as mesmas coisas nos braços, costas, peitos e pernas.

Neste post temos os estudos de Jesus Cristo¹ e São Tiago² para a pintura A Última Ceia. Leonardo Da Vinci era um exímio fisionomista e passava horas por dia procurando rostos na multidão que manifestassem a personalidade de cada um de seus personagens, para representar além da estética, a intenção da alma. Abaixo temos um outro estudo³ de Da Vinci para a representação dos apóstolos na obra:

http://www.wikiart.org/en/leonardo-da-vinci/study-for-the-last-supper-1
Estudos de Leonardo Da Vinci para a Última Ceia

Depois desta aula de pintura com o mestre, só nos cabe o exercício reflexivo e contemplativo perante à vida, para que possamos todos os dias, nem que seja por um minuto, perceber a natureza como se fosse uma obra de arte.

Se você é ilustrador e gostaria de aprender um pouco sobre a técnica de desenho de Leonardo Da Vinci, pode utilizar o tutorial em vídeo a seguir, da Circle Line Art School:

“Na pintura, as ações das figuras são sempre expressivas do propósito da mente.”

Leonardo Da Vinci
Anotações de manuscritos

1 Cabeça de Cristo
Musee des Beaux Arts Strasbourg, França, 1495
Leonardo Da Vinci

2 Cabeça de São Tiago
The Royal Collection, 1492
Leonardo Da Vinci

3 Estudo para a Última Ceia
Galleria degli Uffizi, Florence, Italy, 1494
Leonardo Da Vinci

Podcast deste post foi gerado com o Notebook LM.

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