A Virgem dos Rochedos
A Virgem dos Rochedos é um conjunto de duas pinturas, de composições quase idênticas, pintadas por Leonardo Da Vinci e que estão atualmente expostas no Museu do Louvre em Paris e na National Gallery em Londres.
A obra apresenta um tema religioso, como era de costume nas pinturas renascentistas, porém, em duas versões que se diferem pelo simbolismo utilizado. Na primeira versão, adquirida pelo então rei da França, Luis XII, apresenta a Virgem Maria ao lado de São João Batista, ainda menino, com sua mão esquerda a proteger o menino Jesus que está sob os cuidados de um anjo. A segunda versão, encomendada pela Irmandade Conceição de San Francesco em Milão, apresenta os mesmos personagens, porém, com adornos religiosos e expressões angelicais.
Apesar desta obra ter introduzido uma das técnicas de pintura desenvolvidas pelo mestre renascentista, o chiaroscuro, que consiste no perfeito contraste entre luz e sombra, percebemos um apurado trabalho de pesquisa que transcende a própria pintura e que adentra em áreas da ciência como a geologia, na composição das rochas, a botânica, na minuciosa representação das plantas, sem falar nos estudos de anatomia e expressão humana, sempre presentes em todas as suas pinturas.
Para ilustrarmos o aprofundado estudo que Da Vinci conduzia na representação de cada fenômeno natural em suas pinturas, vamos ver um trecho de suas anotações sobre a cor da atmosfera, representada nesta obra pelo horizonte rochoso para além da cena do ato:
“Eu digo que o azul visto na atmosfera não é sua cor própria, mas é causado pela umidade tépida evaporada em partículas diminutas e imperceptíveis sobre as quais os raios solares caem, tornando-as luminosas contra a imensa escuridão da região de fogo que forma uma capa sobre elas. E isso pode ser visto, como eu mesmo já vi, por qualquer pessoa que suba no monte Rosa, um pico dos Alpes que divide a França da Itália…”
Da Vinci também faz uso recorrente da analogia, como forma de explicar a correspondência entre os fenômenos existentes na natureza, meio inclusive utilizado muitas vezes por ele na criação de projetos de máquinas e sistemas fundamentados na observação destes fenômenos.
“Para mais uma ilustração da cor da atmosfera, podemos considerar a fumaça da madeira velha e seca que, ao sair das chaminés, parece ser de um tom azul pronunciado, quando vista contra um fundo escuro. Mas à medida que essa fumaça sobe mais e é vista contra a atmosfera luminosa, ela assume imediatamente uma tonalidade cinzenta. E isso acontece, porque ela não tem mais escuridão além de si…”
Leonardo Da Vinci não representava apenas um cenário, mesmo que imaginário, através da sua pintura. Antes do primeiro traço de tinta sobre a tela, ele realizava diversos estudos de observação de cada pequeno elemento a ser representado, desde a rocha que brota do chão árido em direção ao céu azul anil, até todas as pequenas espécimes que coexistem harmonicamente no cenário da vida. Entender o comportamento de cada pequeno fenômeno da natureza ajudava Da Vinci a representá-lo da forma mais verossímil possível, como se estivéssemos testemunhando o momento em questão ao contemplar a sua obra.
O vídeo a seguir, do curso “Alta Renascença na Florença e Roma” da Khan Academy, apresenta um estudo das duas versões da Virgem dos Rochedos e dos seus pormenores que tornam esta obra tão especial:
1 A Virgem dos Rochedos
Museu do Louvre, Paris, 1483-86
Óleo em painel, 199 x 122 cm
2 A Virgem dos Rochedos
National Gallery, Londres, 1495-1508
Oléo em painel, 189,5 x 120 cm
“O pintor, com suas proporções harmoniosas, faz as partes componentes reagirem simultaneamente de modo que elas possam ser vistas ao mesmo tempo, tanto juntas quanto separadas.”
Leonardo Da Vinci
Anotações de manuscritos -